sexta-feira, 4 de junho de 2010

Somente existir...

Tanto a dizer, tanto!

Fiquei um bom tempo sem revelar minhas aventuras e observações como Dama da Noite, mas, não duvidem queridos: Damas da Noite sempre trabalham, muito!

O cigarro aumentou, isso sim é um terror...de resto, as noites andam policiadas, tranqüilas, porém, os da noite sempre estão a agir, sempre a ser quem são, mesmo sob as luzes vermelho e azul dos carros oficiais.

Tanto a ser dito, tanto a fazer vocês viverem comigo...mas não dá, não é possível, muito se passou, dez minutos atrás, para mim, tem sido uma eternidade, meu próprio Alzheimer, meu poço mitológico do esquecimento...

Há o doce religioso de Ipanema, rezando e pecando, como bom católico;
Há o misterioso rapaz que não se sabe de onde veio, mas se sabe que ele quer tudo e nada ao mesmo tempo;
Há ainda as nossas meninas da noite, nossas amigas das avenidas praianas, da antiga Help, sempre se deslocando para lá e para cá, trazendo consigo todo o espírito da rua, todas as mil Damas da Noite fajutas como eu em uma só.

Há...e talvez seja só importante dizer que existe.

Beijos

quarta-feira, 19 de maio de 2010

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Minha própria Alice

Pois não é que esta Dama saiu de Caio Fernando Abreu e caiu em Lewis Carroll?

Um movimentado ônibus, passando na “porta” de uma grande favela (ou melhor, “comunidade”), ou seja: certeza de boas estórias quase todo dia...e dessa vez encontrei Alice alguns muitos anos depois do momento em que Tim Burton resolveu encontrá-la para o blockbuster desta temporada...

Muito mais de 40 anos (ou seria o tempo agindo sobre ela, destruindo sua juventude? Talvez fosse muito mais nova, mas não acredito), cabelo tingido de vermelho, quase cobre, curto, jaqueta branca e calça branca, brincos vermelhos, baratos, chamativos.

Esta era minha Alice, a nossa Alice de hoje.

Eu acredito que nossa Alice era lésbica e namorava uma moça mais jovem (mas não tão mais jovem, não levemos o Sr Carroll para a realidade de forma tão contumaz), tão desvairada da vida quanto ela, mas, enquanto a nossa Alice era chamativa na sua forma, sua companheira (sua Gabrielle?) era uma cantora de celular...aliás, naquele local haviam ao menos três celulares tocando músicas, para todos os gostos e irritação (tímida) geral.

Pois bem, Alice possuía um cartão destes de ônibus, e não é que o malvado resolveu dar problema para fazer passar sua donzela? Cobradora reclama, cobradora exige, Alice se vê perdida no mundo dos espelhos, e pede a todos, um a um, que contribua para sua causa: salvar o amor. (Bem, na verdade eu quem estou inferindo isto do que vi, na verdade ela simplesmente saiu pedindo, e só)

De um ônibus cheio, três ajudaram, uma moça e dois rapazes...ela agradeceu e despejou benções a todos que ajudaram (acredito que até nos que não ajudaram, eu me senti abençoada, devo dizer!), a moça, levando a ferro e fogo a bondade maior e inata da mulher (talvez), ofereceu mais da metade do valor necessário, por bondade ou vontade de ver o show terminar, e então nossa Alice vira uma pomba gira bem brasileira:

- Quero que você fique com isso moça (enquanto tenta se manter de pé, tenta retirar os brincos baratos, talvez mais baratos que o preço da passagem), por favor.

Pois nossa moça, a gentil, não se recusou, ou simplesmente temeu se recusar, e aceitou e então o silêncio que não se pode descrever...silêncio.

Eu saltei (ou soltei?) em um ponto e vi que nossa Alice soltou com sua Gabrielle no outro ponto...pois bem, fui seguir minha vida de Dama da Noite, esperando ver novos personagens, mas Alice não desistiria de mim e de minha narrativa: enquanto eu aguardava outro ônibus para voltar, algum tempo depois, quem se posta a meu lado? Alice...

Ela nem lembrou que eu estava naquele ônibus anterior e a vi, também não a lembrei, discutimos amenidades (eu tinha medo de começar a perguntar demais e devorar nossa Alice, agora sozinha, talvez temesse perguntar que fim levou nossa Gabrielle, a barda), e lá foi ela pegar o mesmo ônibus, só que no sentido contrário, eu? Não tive coragem de subir no mesmo ônibus, resolvi deixar Alice com sua toca e procurar a minha própria...

Não queria mais emoções.

sábado, 8 de maio de 2010

Gorda x Sarada

Esta Dama que vos fala também conhece segredos de antes d´noite virar madrugada queridos, sou Aquela que a tudo observa...posso estar observando você, agora.

Estava em seu canto do ônibus a sarada (preparada, popuzada, globeleza sem melanina? Enfim, imaginem-na como desejar), cobiçava o homem belo do local móvel, e como fazia cenas para se manter na atenção do “Deus” da Mercedes! Do outro lado, no cantinho, restava a discreta e desejosa a gorda (a barroca, a Vênus de Botticelli sem tanto charme, a fofinha? Chamem-na do que quiser, ela já foi chamada de tudo..), imaginando o que fazia ali, testemunha de mais uma vitória das saradas...

O “Deus” continuava objeto único do desejo, esquecia-se até que era casado, que sua esposa ligava ao celular, ah, a gorda sabia que “elas” gostavam era mesmo de se casar com os safados, ela própria se considerava vítima, ela era “elas”, tanto quanto “elas” poderiam jamais ser, mas, acredito que, pelo olhar que ela soltava ao “Deus”, não importava naquele momento, ela não queria aquele homem para casar, ela queria somente um (ou vários) pedaços Dele.

A sarada domina a cena, envolve o “Deus”, toma-o nos braços, aos solavancos do ônibus, crente que ninguém a observava (mal percebeu a Dama lá, e muito menos a gorda, que logo mostraria a que veio), mas tudo tem um fim, e a sarada precisa sair, ônibus enche (ônibus sempre enche, principalmente aos sábados à noite), mas tudo bem, ela olha o “Deus”, mesmo sabendo que este nunca olharia pra ela (bem, talvez em alguns momentos tenha olhado? Ela não sabe, ela não quer saber, seria iludir-se).

Pois não é que “Deus” olha para todas as suas súditas?
Pois é...a gorda deu show na sarada e trouxe esperanças, mesmo que você, dona de casa, não saiba, para todas nós...a alma parece que venceu o corpo desta vez.

Mas isto não impede-me de dizer: é um safadão!

Mas...e daí? Fale a verdade: vocês adoram!

"Não confie em ninguém"

Eu não vou começar me apresentando, eu simplesmente não existo para você, sou apenas uma criatura que passa cá e lá, sem passado, sem passarinho para transformar tudo em um musical da Disney. Eu sou apenas um observador, vivendo demais para ter medo, e ainda assim, consigo ter medo demais para me envolver com o quê observo.

Taí...depois você manda para o seu psicanalista.

Pronto, sem mais introduções nesta bagaça, comecemos os trabalhos:

Um amigo recentemente caiu no velho conto dos 30 anos...o que todos vamos cair ou já caímos, e me apresentou a canção “Não confie em ninguém com mais de 30 anos” do Marcos Valle. Ótima música.

Muitas vezes vou falar sobre minhas caminhadas noturnas, são muitas, excessivas, até que meu nome se junte à estatística das balas perdidas ou violência noturna, continuarei seguindo os trilhos que a luz neon me entrega na noite (bom, na verdade, não existe quase mais luz neon nas ruas, né? Enfim, era um mau gosto que nunca deveria ter sido banido, a higienização da estética me irrita em excesso.), e tenho observado que é cada vez mais raro pessoas com menos de 30 nas ruas, nos ônibus, enfim, por aí, durante a madrugada...o que aconteceu com estes que ainda não atingiram os 30?

Onde estas criaturas se encontram? Qual a matinê que elas freqüentam e esqueceram de me avisar?

Eu as vezes acredito que estão todos nos motéis, ou trepando dentro de casa, com a moderna aprovação dos pais...quem sabe não estão enfiados na boate mais próxima, aquela que nunca vou entrar, pois não me encaixo...

Ah! Sim..encaixe.

Deve ser isso, eu não me encaixo, a gente não consegue ver o que não encaixa, pois a vida moderna não permite mais isso, não é assim? Depois da internet, você agora tem o direito, até mesmo o dever de só encontrar aquilo que encaixa com você: se você gosta de funk, você só vai para as comunidades, salas de bate-papo e afins de funkeiros, se você gosta de fotografia, você só freqüenta clubes virtuais de fotografia...e todos tem seus guetos na vida real...internetificamos a vida real.

Talvez o gueto dos que tem mais de 30 possa ser as ruas, os ônibus, as calçadas estranhas...as ruas, terreno de Mercúrio, o Exu devidamente ocidentalizado, talvez não consigam mais comportar os medos e ansiedades juvenis, talvez o rito de passagem para as ruas seja a solidão, aquela que finca na alma e não sai mais, e esta, você talvez só encontre depois de passar por todos os ritos grupais....

Não por um acaso Saturno chegue com tudo aos nossos 30, ele, que é o ermitão, que é aquele que primeiro foi contra o Pai, vem cobrar o valor do reconhecimento de que a vida as vezes é isso: é solidão sob o luar, tendo como companheiros todos os outros solitários, que, mesmo que andem em grupinhos (pequenos, obviamente, andar em grupos grandes depois dos 30 fica feio), ou mesmo duplinhas, não podem negar que são almas que só conseguem reter pra si o que a luz artificial da noite consegue iluminar.