sábado, 8 de maio de 2010

"Não confie em ninguém"

Eu não vou começar me apresentando, eu simplesmente não existo para você, sou apenas uma criatura que passa cá e lá, sem passado, sem passarinho para transformar tudo em um musical da Disney. Eu sou apenas um observador, vivendo demais para ter medo, e ainda assim, consigo ter medo demais para me envolver com o quê observo.

Taí...depois você manda para o seu psicanalista.

Pronto, sem mais introduções nesta bagaça, comecemos os trabalhos:

Um amigo recentemente caiu no velho conto dos 30 anos...o que todos vamos cair ou já caímos, e me apresentou a canção “Não confie em ninguém com mais de 30 anos” do Marcos Valle. Ótima música.

Muitas vezes vou falar sobre minhas caminhadas noturnas, são muitas, excessivas, até que meu nome se junte à estatística das balas perdidas ou violência noturna, continuarei seguindo os trilhos que a luz neon me entrega na noite (bom, na verdade, não existe quase mais luz neon nas ruas, né? Enfim, era um mau gosto que nunca deveria ter sido banido, a higienização da estética me irrita em excesso.), e tenho observado que é cada vez mais raro pessoas com menos de 30 nas ruas, nos ônibus, enfim, por aí, durante a madrugada...o que aconteceu com estes que ainda não atingiram os 30?

Onde estas criaturas se encontram? Qual a matinê que elas freqüentam e esqueceram de me avisar?

Eu as vezes acredito que estão todos nos motéis, ou trepando dentro de casa, com a moderna aprovação dos pais...quem sabe não estão enfiados na boate mais próxima, aquela que nunca vou entrar, pois não me encaixo...

Ah! Sim..encaixe.

Deve ser isso, eu não me encaixo, a gente não consegue ver o que não encaixa, pois a vida moderna não permite mais isso, não é assim? Depois da internet, você agora tem o direito, até mesmo o dever de só encontrar aquilo que encaixa com você: se você gosta de funk, você só vai para as comunidades, salas de bate-papo e afins de funkeiros, se você gosta de fotografia, você só freqüenta clubes virtuais de fotografia...e todos tem seus guetos na vida real...internetificamos a vida real.

Talvez o gueto dos que tem mais de 30 possa ser as ruas, os ônibus, as calçadas estranhas...as ruas, terreno de Mercúrio, o Exu devidamente ocidentalizado, talvez não consigam mais comportar os medos e ansiedades juvenis, talvez o rito de passagem para as ruas seja a solidão, aquela que finca na alma e não sai mais, e esta, você talvez só encontre depois de passar por todos os ritos grupais....

Não por um acaso Saturno chegue com tudo aos nossos 30, ele, que é o ermitão, que é aquele que primeiro foi contra o Pai, vem cobrar o valor do reconhecimento de que a vida as vezes é isso: é solidão sob o luar, tendo como companheiros todos os outros solitários, que, mesmo que andem em grupinhos (pequenos, obviamente, andar em grupos grandes depois dos 30 fica feio), ou mesmo duplinhas, não podem negar que são almas que só conseguem reter pra si o que a luz artificial da noite consegue iluminar.

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