segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Só as prostitutas são felizes

Acredito piamente que "felicidade" é um termo muito mal empregado. Nós acreditamos que felicidade é uma experiência diretamente refletida no espelho que a Disney nos incutiu - mas não é.

Eu creio que já comentei aqui sobre os benefícios da noite, e, serei breve, pois o dia já esta nascendo e as minhas palavras perdem força quando o sol invade meu quarto.

Quando a noite chega, todos, absolutamente todos, se tornam exatamente aquilo que eles realmente são, imagine, minha querida leitora (se é que você existe, se é que alguém me lê), que seja dia e você esteja absolutamente deliciosa em sua melhor roupa, imagine que seja um sábado, ou domingo, um dia em que você não trabalhe.

Agora imagine que ao longo do dia você se penteia várias vezes, arruma a roupa algumas vezes, confere no espelho mais próximo a sua maquiagem...agora, se imagine de noite: você vai lentamente se despindo de seu melhor penteado, mechas ficam rebeldes, enlouquecidas, sua roupa? Ah, essa, nem se fale, lá pelas 3 da manhã a meia-calça já rasgou, você nem quer mais saber se a roupa esta amarrotada ou não.

Quem é você de verdade? A boneca produzida do dia, impecável, ou a medusa noturna? Acredito piamente que nós estamos mais próximas da medusa noturna, com nossos cabelos já desarrumados, a roupa amassada e o rosto já perdendo nossa melhor maquiagem.

É assim que dormimos, é assim que acordamos: é assim que somos.

Com os homens, é a mesma coisa, mas, o processo fica um pouco mais selvagem...

E quem são as Damas da Noite? Quem observa o mundo pela ótica da noite, que revela os nossos instintos, nossas coragens e também nossos medos e nossas carências?

As prostitutas.

Elas conhecem a vida como ela é, a vida como nem você imagina que seja, e por serem umas das poucas que conhecem as verdades, das ruas e das camas, só elas podem realmente encontrar a felicidade.

sábado, 26 de novembro de 2011

Da arte de seduzir Exu...

Exus são, de acordo com os conhecimentos que tenho, e que, infelizmente, são poucos, os porteiros do mundo espiritual, juntamente com Ogum.
Pois bem, alguns Exus merecem nossa atenção especial, seja na calada da noite ou na surdina do dia, e eu já dei atenção para alguns...

Enquanto fumo meu cigarro, no escuro deste quarto sem personalidade alguma em que eu me encontro, eu relembro um que dominou meu coração com força tremenda, ele, com seu cavanhaque e sua cara de safado sempre me chamou a atenção.
Mas Dama que é Dama, e da Noite, ainda por cima, veste a roupa de Diana, a caçadora e vai rastejar sua presa, estuda-la e abocanha-la, sem amor, como é certo que Diana faria.

Pois bem, em uma noite qualquer esta Dama seduziu Exu, e seduziu direitinho, mas acha que saiu perdendo também, afinal, seduzir e conquistar sempre envolve a perda de muitas emoções, antecipações e medos, e isso faz falta, é sair de Diana e virar uma Hecate, Deusa de morte e submundos.
Hoje, fumando meu cigarro, encostada em um canto escuro, vesti novamente minha roupa de Diana e ainda não sei se terei de ir pro sacrifício das fortes emoções que antecipam me despir de Diana e encarar novamente os reinos sombrios de Hecate.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

sábado, 8 de janeiro de 2011

Ser Dama da Noite

As vezes ser Dama da Noite, ou melhor, muitas vezes ser Dama da Noite envolve o ato de conviver com o "coito interrompido".

"Benhê, acabou a camisinha, agora não dá pra rolar mais nada";
"Meu bem, acabou o tesão";
"Lindinha, eu saí com fulana(o), pô, não é nada pessoal";
"Cara, acabou o amor";

As vezes ser Dama da Noite é esperar eternamente aquele avião que nunca mais vai retornar (eu tenho até hoje aquele rascunho, hoje velho e encardido de fumaça de vários cigarros, com o número do último vôo que nunca mais retornará, você tem o seu? Se o tem, jogue fora, dos venenos lícitos, este, o do amor que nunca foi amor, é o pior).

Porém, ser esta que vos fala, na maioria das vezes, envolve somente esperar que aquele passo final seja dado para consumar a luxúria máxima de uma noite de verão e então, como um passe de mágica macabra, esta não ocorrer.

Damas da Noite, durante o verão, exalam perfumes mais tóxicos, se vestem com roupas mais reveladoras, se entregam, inclusive, àquela roupinha que disse que nunca usaria, mas, hey, é fácil dizer "nunca" quando se é inverno e a proposta do corpo é outra.

Ao começo da manhã fica a sensação de um final de noite completo, mesmo com todas as suas incompletudes, ou, como canta Mercedes Sosa, a grande, na letra de Catulo Castilo:

"Ya se, no me digas, tenes razon
La vida es una herida absurda
Y es todo, todo tan fugaz
Que es una curda nada mas
Mi confesion."

P.S e não raro, ser Dama da Noite é esquecer um pouco a noite e viver seus desejos de dia, sem medo do julgamento que o Deus Solar venha a fazer de você.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Somente existir...

Tanto a dizer, tanto!

Fiquei um bom tempo sem revelar minhas aventuras e observações como Dama da Noite, mas, não duvidem queridos: Damas da Noite sempre trabalham, muito!

O cigarro aumentou, isso sim é um terror...de resto, as noites andam policiadas, tranqüilas, porém, os da noite sempre estão a agir, sempre a ser quem são, mesmo sob as luzes vermelho e azul dos carros oficiais.

Tanto a ser dito, tanto a fazer vocês viverem comigo...mas não dá, não é possível, muito se passou, dez minutos atrás, para mim, tem sido uma eternidade, meu próprio Alzheimer, meu poço mitológico do esquecimento...

Há o doce religioso de Ipanema, rezando e pecando, como bom católico;
Há o misterioso rapaz que não se sabe de onde veio, mas se sabe que ele quer tudo e nada ao mesmo tempo;
Há ainda as nossas meninas da noite, nossas amigas das avenidas praianas, da antiga Help, sempre se deslocando para lá e para cá, trazendo consigo todo o espírito da rua, todas as mil Damas da Noite fajutas como eu em uma só.

Há...e talvez seja só importante dizer que existe.

Beijos

quarta-feira, 19 de maio de 2010

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Minha própria Alice

Pois não é que esta Dama saiu de Caio Fernando Abreu e caiu em Lewis Carroll?

Um movimentado ônibus, passando na “porta” de uma grande favela (ou melhor, “comunidade”), ou seja: certeza de boas estórias quase todo dia...e dessa vez encontrei Alice alguns muitos anos depois do momento em que Tim Burton resolveu encontrá-la para o blockbuster desta temporada...

Muito mais de 40 anos (ou seria o tempo agindo sobre ela, destruindo sua juventude? Talvez fosse muito mais nova, mas não acredito), cabelo tingido de vermelho, quase cobre, curto, jaqueta branca e calça branca, brincos vermelhos, baratos, chamativos.

Esta era minha Alice, a nossa Alice de hoje.

Eu acredito que nossa Alice era lésbica e namorava uma moça mais jovem (mas não tão mais jovem, não levemos o Sr Carroll para a realidade de forma tão contumaz), tão desvairada da vida quanto ela, mas, enquanto a nossa Alice era chamativa na sua forma, sua companheira (sua Gabrielle?) era uma cantora de celular...aliás, naquele local haviam ao menos três celulares tocando músicas, para todos os gostos e irritação (tímida) geral.

Pois bem, Alice possuía um cartão destes de ônibus, e não é que o malvado resolveu dar problema para fazer passar sua donzela? Cobradora reclama, cobradora exige, Alice se vê perdida no mundo dos espelhos, e pede a todos, um a um, que contribua para sua causa: salvar o amor. (Bem, na verdade eu quem estou inferindo isto do que vi, na verdade ela simplesmente saiu pedindo, e só)

De um ônibus cheio, três ajudaram, uma moça e dois rapazes...ela agradeceu e despejou benções a todos que ajudaram (acredito que até nos que não ajudaram, eu me senti abençoada, devo dizer!), a moça, levando a ferro e fogo a bondade maior e inata da mulher (talvez), ofereceu mais da metade do valor necessário, por bondade ou vontade de ver o show terminar, e então nossa Alice vira uma pomba gira bem brasileira:

- Quero que você fique com isso moça (enquanto tenta se manter de pé, tenta retirar os brincos baratos, talvez mais baratos que o preço da passagem), por favor.

Pois nossa moça, a gentil, não se recusou, ou simplesmente temeu se recusar, e aceitou e então o silêncio que não se pode descrever...silêncio.

Eu saltei (ou soltei?) em um ponto e vi que nossa Alice soltou com sua Gabrielle no outro ponto...pois bem, fui seguir minha vida de Dama da Noite, esperando ver novos personagens, mas Alice não desistiria de mim e de minha narrativa: enquanto eu aguardava outro ônibus para voltar, algum tempo depois, quem se posta a meu lado? Alice...

Ela nem lembrou que eu estava naquele ônibus anterior e a vi, também não a lembrei, discutimos amenidades (eu tinha medo de começar a perguntar demais e devorar nossa Alice, agora sozinha, talvez temesse perguntar que fim levou nossa Gabrielle, a barda), e lá foi ela pegar o mesmo ônibus, só que no sentido contrário, eu? Não tive coragem de subir no mesmo ônibus, resolvi deixar Alice com sua toca e procurar a minha própria...

Não queria mais emoções.